As dores, as delícias e os desafios de ser TDAH

Quem me conhece sabe que o TDAH é, de longe, meu assunto favorito. Compreender como o transtorno impacta na vida dos portadores e de quem convive com ele é o que me move e me traz a certeza de que sigo cumprindo com minha missão por aqui.

Costumo dizer que o TDAH entrou na minha vida meio que por acaso, mesmo eu não acreditando em acaso. Acredito muito em energia e em algo maior que nos guia e nos leva para onde devemos estar, desde que estejamos em movimento, abertos e prontos para viver a verdade!!

Meu primeiro contato profissional com o TDAH se deu em 2009, quando, durante todo o período de preparação e estudos em Psicologia e, depois, em Psicopedagogia, comecei a atuar como tutora de crianças e jovens de escolas bilingues e trilíngues de São Paulo que apresentavam dificuldades de aprendizagem – algumas já possuíam diagnóstico de TDAH, outras não.

Naquela época, para mim, tudo era tão fácil, intuitivo, orgânico. Eu simplesmente sabia o que fazer, o que falar, como engajar e motivar. A fluidez natural com que tudo acontecia me trazia uma sensação de paz que até então desconhecia.

Mal imaginava eu o quanto esses encontros mudariam a minha vida para sempre! Só mais tarde, pude entender o porquê. A verdade é que assistir de camarote aos desafios diários dessas crianças com TDAH me trouxe a oportunidade de revisitar minha infância e enxergar meus buracos mais profundos. Mergulhei profundamente na minha história e voltei à superfície com a peça que faltava para fechar o quebra-cabeça da minha vida e me empoderar, cada vez mais, para atender tantas pessoas que, assim como eu, sofrem com a desatenção excessiva.

Aos poucos, tudo se encaixava e, num processo árduo e doloroso, porém libertador, pude alcançar a aceitação ativa. O peso de me sentir diferente por tanto tempo dava espaço à leveza e à transparência de, finalmente, saber quem se é. O TDAH faz parte de quem sou, mas não me define enquanto pessoa. Acolher a verdade transforma e traz clareza para entendermos que tudo é como deve ser: perfeito e possível.

Desde então, mudei minha postura vitimista diante da vida. Deixei de apontar o dedo e terceirizar culpados, e passei a me responsabilizar, de uma vez por todas, por minhas próprias escolhas. Aprendi a focar em soluções, e não mais nos problemas e, assim, a vida passou a fluir naturalmente.

Sempre ouvi que em algum momento as coisas se encaixam. E que o universo nos traz as respostas que tanto buscamos. Sinto-me privilegiada por ter ganhado de presente a oportunidade de viver o presente fazendo o que amo: através do (auto) conhecimento, transformar a vida de todas as crianças e adolescentes que passam pelo meu consultório diariamente. A troca é intensa e verdadeira, uma via de mão dupla. Eles transformam os meus dias e preenchem minha vida com significado e muito, muito amor!

Vim para esse mundo com a missão de ensinar, educar, cuidar, orientar. Vim com a missão de gritar e provar para o mundo que viver com o TDAH não é nada fácil, mas é possível, desde que estejamos prontos para dizer SIM a essas quatro letrinhas aparentemente inofensivas, mas ainda tão assustadoras.

As crianças são o futuro, mas é no presente, no hoje, que elas constroem o amanhã. Foi através delas que eu encontrei meu verdadeiro eu, para viver minha essência e cumprir com a minha missão por aqui, sendo quem verdadeiramente sou.