TDAH é a sigla para o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – uma condição neurobiológica crônica que afeta em torno de 5% a 7% da população mundial, causando uma série de impactos na vida de quem possui, de quem cuida e de quem convive com o portador.
O TDAH é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), responsável pela lista de todas as doenças existentes, desde as mais comuns até as mais raras. Atualmente é considerado um dos principais problemas crônicos da infância.
Entretanto, por ser um transtorno invisível, que não tem cara, cor, sexo, idade, classe social, e se manifesta de maneiras diferentes em cada uma delas por causa das comorbidades, infelizmente ainda é muito questionado pelo senso comum.
O TDAH é real, é um transtorno real, um problema real, um desafio real que merece respeito e tratamento.
Apenas conhecendo sobre o TDAH é possível substituir desinformação e julgamento por inclusão e acolhimento.
O que é e quais as causas do TDAH?
O TDAH não é problema de cunho social e nem culpa de ninguém. Ele não é resultado de falta de limite dos pais, má educação, abandono afetivo ou lares desajustados. Tampouco é resultado de uma sociedade hiperativa, hiper conectada e hiper focada em diversos estímulos ao mesmo tempo, fruto da revolução tecnológica.
O TDAH é um conjunto de sintomas, com causas múltiplas, incluindo fatores neurobiológicos, pessoais e ambientais. Trata-se de um transtorno de neurodesenvolvimento predominantemente genético que nasce com a indivíduo e o acompanha a vida inteira.
O indivíduo com TDAH apresenta dificuldade em manter o foco e a atenção e excesso de movimentação constante, com escasso controle de impulsos. Mas o TDAH vai além dessa tríade sintomatológica. Há, ainda, desorganização motora, espacial, executiva e de tempo, bem como desregulação emocional e cognitiva.
Porém, o sintoma sine qua non para o diagnóstico é a instabilidade da atenção, que oscila entre o hiperfoco e o hipofoco. Ou seja, a pessoas com TDAH consegue manter a atenção por horas em atividades de seu interesse, mas possuem muita dificuldade de mantê-la em atividades chatas, longas, repetitivas, que exigem esforço mental prolongado e não trazem recompensa imediata.
Por que isso acontece?
Porque há uma alteração na região frontal do cérebro e suas conexões que impacta no funcionamento de um sistema de substâncias químicas chamadas de neurotransmissores, principalmente dopamina e noradrenalina.
O córtex pré-frontal do TDAH é mais imaturo, funciona em uma velocidade menor sem filtrar determinados pensamentos. Desta forma, no cérebro do TDAH há ‘excesso de pensamento desorganizado’.
Além disso, o lobo frontal também é responsável pelas funções executivas. Por isso, o indivíduo com TDAH apresenta déficit na atenção sustentada, seletiva e prejuízos na memória operacional; bem como inquietude mental e motora, intolerância à espera e frustação, problemas de socialização, dificuldade para controlar e inibir comportamentos e desacelerar.
Há, ainda, dificuldade de autorregulação emocional para lidar com frustações e para cumprir tarefas chatas, longas e repetitivas que não trazem recompensa imediata. A desorganização espacial, executiva, motora e de tempo indica dificuldades de lidar com planejamento, organização, definição de prioridades, flexibilidade cognitiva, além de noção de tempo, espaço e habilidade motora.
Quais os sintomas que indicam TDAH?
De acordo com os critérios definidos pela Associação Psiquiátrica Americana na 5a edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V, 2013), o TDAH se caracteriza por uma combinação de dois grupos de sintomas: desatenção e hiperatividade/impulsividade, divididos em três tipos: o desatento, o hiperativo-impulsivo e o combinado.
O DSM-5 é um manual que lista todos os sintomas de todas as enfermidades psiquiátricas existentes, tornando os diagnósticos mais padronizados, mais homogêneos entre os profissionais. Ele serve como um guia, mas o diagnóstico clínico é mais complexo e vai além da listagem estabelecida.
De que maneira eles se manifestam?
Pessoas com TDAH do tipo desatento podem apresentar dificuldades de manter a atenção e cometer erros por descuido, dificuldade de se concentrar, principalmente em tarefas que exijam esforço mental prolongado, como estudos, leitura, tarefas escolares; além de terem maior dificuldade de seguir instruções orais e escritas. Somada à distração, inclusive com os próprios pensamentos, costumam ser desorganizadas, esquecidas, perderem objetos com frequência e tendem a ficar entediado com as coisas (exceto com aquelas que gostam muito), a procrastinar e a não finalizar deveres e tarefas.
Pessoas com TDAH do tipo hiperativo-impulsivo apresentam dificuldades de se controlar, costumam ser desastradas e impacientes, agitadas e tagarelas, falam sem parar e nem pensar, interrompendo os outros ou se metendo em conversas alheias. Parecem ser ‘elétricos’ e estarem ‘a mil por hora’.
Pessoas com TDAH do tipo combinado apresentam características do tipo desatento e do tipo hiperativo-impulsivo. Conhecer o tipo do TDAH ajuda a entender de que maneira ele afeta a vida e facilita a busca por estratégias que minimizem os sintomas e trazem mais qualidade de vida.
Como é feito o diagnóstico do TDAH?
O diagnóstico do TDAH é dimensional: todo mundo tem algum sintoma de desatenção e inquietude, mas algumas têm em excesso. Além disso, o diagnóstico é observacional e multidisciplinar: não há exame e nem teste laboratorial que detecte o TDAH; por isso, o olhar clínico de uma equipe de profissionais especializados é fundamental para um diagnóstico certeiro.
O diagnóstico é feito com base nos critérios mais recentes do DSM-5, entrevista clínica com os pais (desenvolvimento infantil, linguagem, coordenação motora, humor, alimentação, sono, esfíncteres); questionário e escalas de avaliação respondidas por pais e professores sobre o comportamento e o ajustamento da criança em casa e na escola; riscos genéticos e ambientais, avaliação neuropsicológica e exames médicos, quando necessário (principalmente para descartar outras hipóteses).
Para concluí-lo, é obrigatório que os sintomas estejam presentes na infância e persistam por pelo menos seis meses; causem problemas em pelo menos dois contextos diferentes, como em casa e na escola, por exemplo e atrapalhem claramente a vida do indivíduo, seja nas questões acadêmicas, sociais, familiares, profissionais, etc.
As crianças com TDAH não são todas iguais. Os sintomas se manifestam de maneira singular em cada um. Além disso, ele raramente aparece sozinho. Pessoas com TDAH têm maior chance de apresentar outros transtornos associados de desenvolvimento, comportamento, emocional ou acadêmico, conhecidos como comorbidades. Por isso, o diagnóstico não deve, em hipótese nenhuma, ser feito em apenas uma consulta, com apenas um profissional. O médico é quem fecha o diagnóstico.
Qual o tratamento indicado para o TDAH?
De acordo com o protocolo mundial, o tratamento do TDAH é multimodal, composto por acompanhamento médico (neurologista / neuropediatra / psiquiatra) para avaliar necessidade do uso medicamentoso; acompanhamento psicológico com foco em terapia cognitivo comportamental (TCC); acompanhamento de outros profissionais como psicopedagogos, fonoaudiólogos, psicomotricistas e terapeutas ocupacionais dependendo dos prejuízos apresentados.
Além disso, a intervenção psicoeducativa é imprescindível para oferecer atenção integral e cuidados preventivos ao paciente. A psicopeducação é uma ferramenta de autoconhecimento poderosa e transformadora, pois auxilia o paciente a se informar e a se conscientizar sobre quem você é e como você funciona para buscar estratégias compensatórias visando otimizar seu funcionamento e aumentar sua qualidade de vida.
Ao entender sua condição e seu processo, torna-se mais fácil lidar melhor com as angústias e dificuldades do dia a dia, corrigir pensamentos e comportamentos distorcidos, identificar e evitar situações e sintomas que possam desencadear crises, por exemplo.
O TDAH tem cura?
TDAH não é considerado um transtorno crônico e, por isso, não tem cura. Trata-se de uma condição, uma característica da pessoa como a cor dos olhos, do cabelo, algo que faz parte de quem ela é e o acompanhará por toda a vida. Mas, por ser uma condição é de saúde pública, precisa de tratamento.
Por que o tratamento do TDAH é tão importante?
Como os sintomas do TDAH acompanham o indivíduo desde a infância, os portadores acabam tendo uma visão negativa sobre si mesmo, devido ao acúmulo de rótulos recebidos ao longo da vida. A partir do momento em que se entende o porquê de determinados comportamentos, é possível encará-lo de uma forma diferente, aprender a lidar e a conviver com ele de maneira mais saudável e encontrar estratégias para melhorar sempre.
Mas os prejuízos do TDAH vão além do impacto na (baixa) autoestima. Estudos científicos comprovam que crianças e adolescentes com TDAH não tratados apresentam maior risco para reprovação, expulsão e abandono escolar; bem como de acidentes, abuso de substâncias ilícitas como álcool e drogas e de desenvolverem depressão e ansiedade. Além disso, em adultos, há maior incidência de desemprego e divórcio.
O TDAH é um dos transtornos mais estudados da psiquiatria e é o mais tratável também. Portanto, se você conhece alguém que possa se beneficiar com essas informações, compartilhe. Buscar ajuda profissional pode ser o impulso que ela precisa para sair do sofrimento e encontrar beleza e leveza no caminhar.
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