Desde que passei a estudar sobre o funcionamento do sistema nervoso, minha percepção sobre desenvolvimento infantil e aprendizagem mudou bastante e impactou diretamente na minha atuação enquanto terapeuta educacional. Posso dizer que foi amor à primeira vista, pois a cada leitura ou curso novo que fazia, me deparava com um caminho que contempla muito do que acredito e defendo.
O curso de Psicopedagogia Clínica nos traz a perspectiva de atendimento baseada na Epistemologia Convergente, do psicopedagogo argentino Jorge Vica, que propõe uma linha de trabalho clínico utilizando – se da confluência das três linhas: Psicogenética (Piaget), a Psicanálise (Freud) e a Psicologia social (Enrique Pichon Riviere), na qual apresenta uma dimensão clássica de clínica, propondo diagnóstico, tratamento corretor e prevenção.
Em contrapartida, a Neurociência aliada à Psicologia Cognitiva nos traz a perspectiva de “como o cérebro aprende”, nos permitindo entender de que forma ele é impactado pelo ambiente e como pode se reorganizar de forma contínua através da neuroplasticidade; além de nos ajudar a distinguir com base científica qual a causa das dificuldades de aprendizagem de forma mais precisa, para que possamos adotar os estímulos mais adequados para conduzir os processos de aprendizagem de maneira eficaz e prazerosa.
Por muitos anos, o cérebro foi um grande mistério. Até o século passado, apenas se intuía como ele funcionava. Mas, investigações neurológicas recentes sobre seu funcionamento nos permitem afirmar com segurança que “o cérebro é o órgão da aprendizagem”.
Para aprender, é preciso que a tríade ne pleno funcionamento. Ela é composta por fatores cognitivos (pensamento, linguagem, percepção, memória e raciocínio), executivos (planejamento, organização, priorização, atenção e execução) e conativos (emocionais). Qualquer alteração em uma dessas áreas irá afetar a maneira como a pessoa adquire conhecimentos.
O cérebro aprende a partir da combinação de estímulos e tem algumas funções: recepção, armazenamento, análise e saída das informações recebidas através dos sentidos. Esses estímulos ativam diferentes conjuntos de neurônios, conectados entre si, cada um deles envolvido com uma função mental importante para a aprendizagem. A atenção seleciona as informações e o cérebro dá um significado a elas. (olha a importância da atenção aí).
Os processos de leitura, escrita e matemática, por exemplo, se fazem e necessariamente se concluem em todas as suas áreas cerebrais, cada uma com uma função principal. Para ler, escrever e calcular, dependemos de todas as redes neuronais e suas conexões.
A aprendizagem depende muito do nível de maturidade e de integração de todas essas áreas e este processo, por sua vez, depende de inúmeros fatores genéticos, maturacionais e ambientais.
O atraso ou a disfunção de qualquer região ou redes conectivas podem resultar em déficits qualitativos e quantitativos no processamento adequado destas informações, o que influencia diretamente na maneira como a criança aprende e/ ou não aprende.
Mas, não basta apenas conhecer as organizações e as funções do cérebro, os períodos receptivos, os mecanismos de linguagem, da atenção e da memória, as relações entre cognição, emoção, motivação e desempenho, as dificuldades de aprendizagem e as intervenções a elas relacionadas para tornar-se um educador / terapeuta de excelência.
É preciso ir além e ter em mente que “a mágica do ensinar e aprender” vai além de teorias e conceitos científicos. É preciso enxergar o aprendente para além de sua condição de estudante. Afinal, ensinar é uma arte que exige treino, dedicação, soma de anos de experiência e amor, muito amor!.
Rubem Alves, no livro “A Arte de Educar” tem uma frase que eu gosto muito: “Os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: intérpretes de sonhos.”
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